SELFIE ATÔNITA
Experiência performática filmada na quarentena. Tentativa de montagem de autorretrato, na situação de vulnerabilidade do isolamento social, numa busca de contato com outras subjetividades atônitas e poéticas.
Para assistir, clique no folder da videoarte acima ou clique aqui.
FICHA TÉCNICA
Performance e Direção
Nanci de Freitas
Consultoria de Vídeo
Analu Cunha
Edição de Imagem e Som
Julia Esquerdo
Bolsista de Extensão DEPEXT/PR3
Divulgação e Mídias Sociais
Julia Esquerdo
Bolsista de Extensão DEPEXT/PR3
Selfie 1
Fragmento do romance Um sopro de vida, de Clarice Lispector
Selfie 4
Fragmento do poema Lisbon revisited, de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa
Selfie 5
Fragmento do poema dramático O Marinheiro, de Fernando Pessoa
Selfie 6
Fragmento do poema Não sou ninguém, de Emily Dickinson
Selfie 7
Fragmento do poema Motivo, de Cecília Meirelles
Selfie 8
Fragmento de Um sopro de vida, de Clarice Lispector
Selfie 9
Fragmento do poema A palavra Minas, de Carlos Drummond de Andrade
Música
Breuss Arrizabalaga Quintet - Cherenzig
Ao fundo
Imantação, Fotografia de Marília Jaci
Captura de camadas de matéria orgânica
Realização
Mirateatro! Espaço de Estudos e Criação Cênica Instituto de Artes da UERJ- ART UERJ
Apoios
Pró-reitoria de Extensão e Pesquisa - PR3 (DEPEXT- bolsa de extensão)
Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa - PR2 (INOV UERJ - bolsa qualitec)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ
SELFIE ATÔNITA
POR NANCI DE FREITAS
O filósofo coreano, Bung-Chul Han, em entrevista ao jornal El País, publicada em 23/03/2021, diz sobre o esgotamento que vivemos no confinamento da pandemia:
Também nos esgotamos com as lives permanentes, que nos transformam em videozumbis. Acima de tudo, elas nos obrigam a nos olharmos o tempo todo no espelho. É cansativo contemplar a própria cara na tela, estamos o tempo todo diante de nossa própria cara. Não deixa de ser uma ironia que o vírus tenha surgido justamente na época das selfies, que se explicam, sobretudo, por esse narcisismo que se espalha pela nossa sociedade. O vírus potencializa o narcisismo. Durante a pandemia todo mundo se confronta, sobretudo, com a própria cara. Diante da tela fazemos uma espécie de selfie permanente.
Antes da pandemia, já havia a presença massiva na internet de registros do cotidiano: onde se vai almoçar aos domingos e o que se come, quem anda rodeado de amigos e para onde se viaja nas férias. Acompanhamos as trajetórias pessoais: das barrigas ao nascimento dos filhos, às comemorações de aniversário, festas de 15 anos, bodas de prata. Formaturas e defesas de teses. É preciso registrar e dar visibilidade.
Com a pandemia, a presença nas redes sociais se intensifica. Isolados em casa, acompanhamos as imagens dos que podem se retirar para o campo, para as montanhas, praias paradisíacas, banhos de cachoeira. Parecem felizes. Quando saio à rua, percebo a indigência e as desigualdades em lentes de aumento. Impotência.
Todos agora fazemos lives. Finalmente, alcançamos os 15 minutos de fama, como previu Andy Warhol. São 15 minutos que se desdobram, se ampliam ao infinito. Todos querem dizer o que pensam. Todos se mostram preparados para opinar sobre todos os assuntos, expor o que conhecem, suas áreas de atuação, vender seus produtos. Todos querem dizer quem são. Voltamos aos arquivos de fotos, fazemos a revisão das trajetórias profissionais e artísticas. Mostramos as habilidades corporais, musicais, falamos poemas, indicamos receitas, tornamo-nos youtubers.
Percebi que as postagens de minhas “tentativas live” eram um desejo de dizer algo ao “mundo da minha bolha”, uma busca desesperada de contato. “Oi, estou aqui”. Muitos responderam ao aceno. As tentativas se esgotaram e eu precisava continuar acenando. Começo uma busca desesperada de mim mesma: “Quem eu sou de fato? Quantos amigos eu tenho? Eu pertenço a que? A que lugares, comunidades, crenças, pensamento político? Eu sou artista?”.
Me pego fazendo pequenas cenas irônicas que vão construindo um self-portrait. Por minha cabeça passam fragmentos de poemas que começam com “eu sou”. Vou lendo, vou filmando, vou colando essas imagens que me acompanham há tanto tempo e que se renovam, ganham novos sentidos na dor e perplexidade do agora. Divirto-me à beça. Vou montando um video-selfie, uma cena que se desdobra, sempre no mesmo cenário, onde me entrelaço com meus eus e outros eus, também atônitos: Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Fernando Pessoa, Emily Dickinson, Carlos Drummond de Andrade. Eu sou o que me atravessa. Eu sou o que me faz sentir viva.
USADOS NA VIDEOARTE
FRAGMENTOS DE UM SOPRO DE VIDA
POEMA DE CLARICE LISPECTOR
Eu reduzida a uma palavra? Mas que palavra me representa?
De uma coisa sei: eu não sou o meu nome.
O meu nome pertence aos que me chamam
Mas, meu nome íntimo é zero.
É um eterno começo permanentemente interrompido pela minha consciência de começo.
FRAGMENTOS DE O MARINHEIRO
TEXTO DE FERNANDO PESSOA
As minhas palavras presentes, mal eu as digo, pertencerão logo ao passado, ficarão fora de mim, não sei onde, rígidas e fatais... Tenho um medo maior do que eu. É por isto que me apavora ir, como por uma floresta escura, através do mistério de falar... Custa tanto saber o que se sente quando reparamos em nós!…
não sou ninguém
POEMA DE EMILY DICKNSON | TRADUZIDO POR Augusto de Campos
Não sou Ninguém! Quem é você?
Ninguém - Também?
Então somos um par?
Não conte! Podem espalhar!
Que triste - ser - Alguém!
Que pública - a Fama -
Dizer seu nome - como a Rã -
Para as almas da Lama!
FRAGMENTOS DO POEMA MOTIVO
POEMA DE CECÍLIA MEIRELES
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Arte Digital: Julia Esquerdo
LIVE MOSTRA DE VÍDEOS: CENA E PEFORMANCE
Gravação da live apresentada por Analu Cunha e Nanci de Freitas, na plataforma Instagram, no endereço @mirateatro_art_uerj, dentro da Mostra de vídeos: cena e performance, produzida pelo projeto Mirateatro! Espaço de estudos e criação cênica. A live debateu questões relacionadas a duas vídeo-performances, com atuação de Nanci de Freitas, Live tentativa e Selfie atônita, realizadas em 2020, durante a quarentena.
Apresentação da live: Analu Cunha e Nanci de Freitas
Analu Cunha é artista visual e Profª do Instituto de Artes da UERJ.
Nanci de Freitas é atriz, encenadora e Profª do Instituto de Artes da UERJ.
Vídeo performance de Nanci de Freitas
Edição de imagem e de som: Júlia Esquerdo (bolsista de extensão)
Clique na imagem abaixo para acessar o vídeo através do canal do YouTube do Mirateatro