
FICA FRIO: UMA ROAD PEÇA

A peça de Mário Bortolotto, escrita em 1989, narra peripécias de dois irmãos de personalidades distintas que embarcam numa viagem sem rumo, Brasil a fora. Maurício, o rapaz de princípios conservadores, é incumbido pelo pai de trazer de volta para casa, Fernando, que caiu na marginalidade. Contudo, é ele quem acaba, mesmo sem querer, se enredando na desenfreada vida do irmão mais velho.
FICHA TÉCNICA
Texto
Fica Frio: Uma Road Peça, de Mario Bortolotto
Direção
Nanci de Freitas
Assistente de Direção
Rodrigo Claro
Elenco
Arthur Batista Cordeiro
Fabrício Gabriel
Rodrigo Claro
Figurinos
Juliana Augusto
Trilha Sonora
Arthur Batista Cordeiro
Espaço Cênico e Iluminação
Nanci de Freitas
Vídeo
Arthur Batista Cordeiro
Produção
O grupo
Montagem de Som e Luz
Equipe técnica da divisão de teatro - DECULT/SR3
Coordenação
César Germano
Cartaz da Peça
Arthur Batista Cordeiro
Programação Visual
Juliana Augusto
Fotos
Luiz Augusto Lobo
Figurinos
Juliana Augusto
Realização
Mirateatro! Espaço de estudos e criação cênica
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Foto: Luis Augusto Lobo
Foto: Luis Augusto Lobo
FICA FRIO – O CAMINHO IMPORTA
MAIS QUE A CHEGADA
TEXTO DE NANCI DE FREITAS
Em 2010, o Mirateatro realizou uma pesquisa sobre teatro brasileiro contemporâneo, com estudos de textos sobre dramaturgia e encenação, no Brasil. As atividades culminaram com a leitura de diversas peças de Mário Bortolotto, autor paranaense radicado em São Paulo, provocando o entusiasmo do grupo, que optou pela experimentação cênica de Fica Frio: uma road peça.
A peça, escrita em 1989, narra uma aventura de dois irmãos que embarcam numa viagem sem rumo, Brasil a fora. Maurício, o rapaz de princípios conservadores, é incumbido pelo pai de trazer de volta para casa, Fernando, que caiu na marginalidade. Contudo, é ele quem acaba, mesmo sem querer, se enredando na desenfreada vida do irmão mais velho. Numa saga de delitos e fuga (alternando momentos dramáticos e cômicos), as circunstâncias levam os dois ao reconhecimento mútuo, desvelando as tramas do contexto familiar. As peripécias são mediadas pela narração do DJ de uma rádio, com uma trilha sonora embalada por rock and roll e jazz e por personagens episódicas, que ajudam a construir as situações enfrentadas pelos brothers.

Foto: Luis Augusto Lobo
A influência das obras e do pensamento da Beat Generation (movimento literário norte-americano que se desenvolveu no período de 1944 a 1958) fica evidente tanto na temática quanto na estrutura da peça de Mário Bortolotto, que cita Jack Kerouac (autor de On the road, a bíblia da geração beat), um dos líderes do movimento, ao lado dos escritores Allen Ginsberg, William Burroughs, Neal Cassady, dentre outros. Os beatiniks abriram caminho para o movimento hippie e a contracultura dos anos sessenta, influenciando poetas, músicos, artistas, dramaturgos e cineastas de diversas gerações, passando pelos escritores Charles Bukowski e Sam Shepard e pela trilha sonora de músicos como Bob Dylan, Janis Joplin, Jim Morrison, Laurie Anderson, Tom Waits, Philip Glass, dentre outros. Além disso, o próprio subtítulo atribuído pelo autor de Fica frio à sua obra – uma road peça – faz relações óbvias com o road movie, gênero amplamente explorado pelo cinema americano (de Easy rider a Thelma e Louise), passando por filmografias mundiais, que incluem filmes de Ridley Scott, David Lynch, Jim Jarmusch, Gus Van Sant, Wim Wenders e do brasileiro Walter Salles.
O que parecia ser uma escolha confortável para a configuração do Mirateatro, no ano de 2010 (formado por três atores e uma assistente de produção), não demorou a revelar o enorme desafio de encenar a peça Fica frio, cuja estrutura épica se desenvolve por uma infinidade de lugares (quarto, estrada, rua, cidade grande, fliperama, becos) e de meios de transporte (carro, trem, ônibus, metrô).
O ritmo vai crescendo em velocidade alucinada, traduzido por diálogos rápidos, que emergem do fluxo tenso das mudanças de situação e de espaços, cortes bruscos de ação, num esquema que, apesar da fragmentação e da euforia, abre brechas para o embate dos conflitos e a revelação da humanidade dos personagens. Tudo junto exige grande fôlego e capacidade de jogo cênico dos atores.
No processo de experimentação cênica dos atores, foram utilizados procedimentos de “análise ativa” do texto (conforme Constantin Stanislavski), pelos quais a assimilação das circunstâncias e ações dos personagens ocorre por meio de exercícios corporais e improvisações dos atores, que se relacionam diretamente com o espaço de trabalho. A partir daí, foi possível delinear os elementos da ação dramática (enredo, conflito, personagens e objetivos) e sua concretude física no trabalho dos atores.
O texto de Mário Bortolotto nos convidou a fazer uma viagem. O desejo de imersão nesta trilha, pautada pela juventude e rebeldia, pelo sonho compartilhado pela amizade e pelo rock and roll, foi enorme. A metáfora era a da liberdade, mas, como o processo é para a arte, o caminho foi mais importante que a chegada.
ROTEIRO: MARCAÇÕES DE CENA E LUZ
TEXTO DE NANCI DE FREITAS | Teatro Noel Rosa

Foto: Luis Augusto Lobo
ABERTURA
Apaga a LUZ da plateia. Quarto de hotel. Pouca luz.
Fernando deitado no colchonete. DJ lê um trecho do livro On the road e depois toca uma flauta. Atravessa o palco e vai para a mesa do DJ. Música On the nickel.
Atores se aquecendo no palco à meia luz. Nanci fala com o público
CENA 1
Quarto de Hotel
LUZ: a mesma. Fernando está deitado. Mauricio entra durante a música. Pega a arma e aponta para o irmão. Fernandodiz: “estou com fome, o dinheiro acabou, preciso arrumar mais”. Desce do palco.

Foto: Luis Augusto Lobo
CENA 2
Rua em frente à joalheria
LUZ clara: é dia – platéia iluminada até o corredor. Palco escurece.
Eles descem para a plateia. Fernando está na escada do lado direito, junto ao Maurício, que está segurando suas pernas. Fernando se solta e sai pela coxia esquerda.
LUZ geral no palco: Maurício, ao telefone. Fernando volta com as joias que roubou.

Foto: Luis Augusto Lobo
CENA 3
Carro
Som de sirene. Estrada.
LUZ: Foco para delimitar carro feito com duas cadeiras, do lado do direito.
Luz em DJ que diz um texto e coloca a música Key to the highway.
Maurício pergunta: “Porque você está saindo da estrada?”. Fernando: “Tem uma praia de nudismo”. Passa o surfista no proscênio. Descem do carro. Fernando finge urinar
CENA 4
Rua
LUZ na plateia, no corredor central, até o murinho.
Fernando anda em direção ao murinho, do lado esquerdo e Maurício para o murinho do lado direito. Projeção de vídeo com fala longa de Maurício
CENA 5
Linha do Trem
LUZ no proscênio. - Os dois ficam correndo sem sair do lugar em frente ao palco, como se tentassem subir no vagão. Fernando sobe e ajuda Maurício

Foto: Luis Augusto Lobo

Foto: Luis Augusto Lobo
CENA 6
Vagão do Trem
LUZ de entardecer. Projeção de estrada de ferro. Fernando deita no colchonete, ao dizer: “por que você não dorme, hein? Pelo que me consta você deve ter tido o dia mais agitado da sua vida.”. A luz vai fechando aos poucos até cair em resistência.
DJ – “São 24 horas…” Música: The and – The doors
CENA 9
Loja de Fliperama
Os dois jogam e depois se juntam no proscênio. Maurício fala: “você não sabe o quanto te odeio”. Fernando diz: “tudo bem, toma um drink? Bebe gin? ... Sempre há uma primeira vez. É isso aí”.
CENA 10
Cena do Ônibus
Voz feminina anuncia a partida. Os dois seguem até as cadeiras para fazer a cena do ônibus. LUZ mais fraca delimitando a área. Painel com imagem de estrada passando, em moldura. DJ: Música Revolution - Cena da bala de caramelo.

Foto: Luis Augusto Lobo
CENA 11
Metrô de Sāo Paulo
LUZ GERAL (Duas cadeiras e uma arara são arrumadas durante a música, do lado esquerdo, para fazer o metrô). Arthur passa por trás da cena com uma gaita, num estilo hippie. Para do outro lado do palco para tocá-la.
CENA 13
Estação Liberdade
LUZ GERAL. Voz em off anuncia: “Estação Liberdade”. Os dois descem do palco. Arthur troca de acessórios e vira um japonês caricato. Durante a fala do Maurício, Arthur volta para a mesa de som.

Foto: Luis Augusto Lobo
CENA 14
Cena do Policial
LUZ escura - pesadelo. Rodrigo diz: “Deixa o garoto em paz”. Luz vai abrindo em resistência. Eles acordam do pesadelo.
CENA 13
Estação Liberdade
LUZ GERAL. Voz em off anuncia: “Estação Liberdade”. Os dois descem do palco. Arthur troca de acessórios e vira um japonês caricato. Durante a fala do Maurício, Arthur volta para a mesa de som.
Professora
Atualmente, é professora na na empresa Wizard. Graduada em Historia da Arte no Instituto de Artes da UERJ. Integrou a equipe do Mirateatro como Estágio Interno Complementar.
CENA 17
Estrada com Caminhoneiro
LUZ no proscênio. O Caminhoneiro aparece na escada à esquerda. Os dois, de pé, em frente ao palco conversam com o Caminhoneiro.

Foto: Luis Augusto Lobo

CENA 18
Cena de Rua
LUZ na escada à direita. Maurício sentado na escada e Fernando em pé. Os dois saem abraçados em direção a plateia. Fernando diz: “eu sinto muito. Toma aí”. Dá um par de óculos para o irmão.
Foto: Luis Augusto Lobo
CENA 19
Leão de Chácara
LUZ na plateia e no palco. DJ no palco.

Foto: Luis Augusto Lobo
CENA 20
Cena na Rua
LUZ na plateia. Eles sobem para o palco. Fernando sai de cena e volta quando Maurício diz: “hey, onde você vai?”. Os dois ficam olhando um para o outro, no meio do palco, sem se mover. Rodrigo sai quando fala: “você tá falando menos”.

Foto: Luis Augusto Lobo
CENA 22
Cena do Beco
LUZ escura. A cena acontece no meio do palco. Maurício decide ir embora e sai pela plateia. Fernando fica no palco, olhando o irmão que atravessa a platéia. Fernando sorri.
Entra música de Bob Dylan. LUZ vai caindo em resistência sobre Fernando.
FIM
PROPOSTA DE FIGURINOS E ADEREÇOS
POR JULIANA AUGUSTO

ÓCULOS
1. Preferência

2. Alternativa

HEADPHONE
Para DJ
Média de R$30

JAPONÊS
Faixa que usa na testa

PERUCA FEMININA
(Cena 10)
Eu tenho essa peruca loira que posso emprestar
PERUCA DE HIPPIE
Custa no máximo R$20. Posso ver se consigo emprestado.
POLICIAL
Procurar quepe policial no Centro.
CAMINHONEIRO
Boné e cigarro.

Maurício o da esquerda, mas sem essa jaqueta por cima. Só a blusa social e o colete.
Fernando o da direita.
Arthur ficaria básico, de jeans e camiseta (pensei em azul, pra dar uma diferença da cor do figurino p&b do Maurício e Fernando).

Foto: Luis Augusto Lobo

Juliana Augusto estudou História da Arte no Instituto de Artes da UERJ (2012). Integrou a equipe do Mirateatro como bolsista de Estágio Interno Complementar, tendo participado do processo de encenação dos espetáculos Zona de risco e Fica Frio, como assistente de produção e de figurinos. Atualmente, é professora de inglês na empresa Wizard.
Arthur Cordeiro prova figurino do personagem japonês, com Juliana Augusto.
TEASER DE FICA FRIO
Narrativa da aventura de dois irmãos numa viagem sem rumo pelo Brasil, inspirada na Geração Beat e no road movie. Vídeo: Arthur Cordeiro; Ator: Fabricio Gabriel Cena de Fica Frio, peça de Mário Bortolotto, de 1989. Uma experiência cênica dirigida por Nanci de Freitas, em 2010, no Mirateatro! Espaço de estudos e criação cênica.
Clique na imagem abaixo para acessar o vídeo através do canal do YouTube do Mirateatro